Cresce número de companhias nacionais listadas em Wall Street, enquanto a bolsa brasileira enfrenta retração e perde atratividade para o mercado global
Nos últimos anos, um movimento silencioso, porém crescente, tem remodelado o cenário do mercado de capitais brasileiro: empresas nacionais estão preferindo abrir capital nas bolsas americanas, como a Nasdaq e a Bolsa de Nova York (NYSE), em vez da tradicional B3, em São Paulo. O fenômeno acende um alerta sobre o enfraquecimento da principal bolsa brasileira diante de um ambiente regulatório mais instável e menos competitivo.
A tendência é puxada por startups e empresas de tecnologia, como Nubank, XP Inc., PagSeguro, Stone, VTEX e Zenvia, que buscam visibilidade global, acesso a capital estrangeiro e maior liquidez, fatores ainda distantes da realidade da B3. Mesmo mantendo operações no Brasil, essas companhias decidiram internacionalizar sua presença financeira e captar recursos fora do país.
Fuga de IPOs e esfriamento do mercado local
A B3 tem registrado queda acentuada no número de IPOs e follow-ons, afetada por um cenário interno de volatilidade política, insegurança jurídica, juros altos e regras fiscais instáveis. Esse conjunto de fatores tem levado empresas a repensarem o custo-benefício de estrear no mercado brasileiro, optando por listar suas ações diretamente nos Estados Unidos.
Especialistas destacam que a previsibilidade regulatória e o apetite dos investidores internacionais são atrativos importantes. Além disso, o custo de se lançar na bolsa brasileira é considerado elevado, o que desestimula novos entrantes, especialmente em tempos de incerteza econômica.
Investidor brasileiro também migra para o exterior
O movimento não se limita às empresas. Investidores brasileiros têm demonstrado interesse crescente por ativos estrangeiros. A popularização das plataformas digitais de investimento e dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que permitem acesso facilitado a papéis negociados em Wall Street, contribui para essa mudança de comportamento.
Com isso, a B3 perde relevância não apenas como plataforma de captação de recursos, mas também como espaço de diversificação para o investidor local.
Futuro da B3: reformar ou perder espaço?
Analistas do mercado financeiro apontam que a bolsa brasileira precisará se reinventar se quiser competir com os centros financeiros internacionais. Isso inclui oferecer produtos mais atrativos, simplificar processos regulatórios e atuar junto a órgãos públicos por melhorias estruturais no ambiente de negócios nacional.
Sem essas mudanças, o risco é claro: o Brasil pode continuar assistindo a um esvaziamento gradual da B3 — e, com ele, da capacidade de financiar seu próprio crescimento econômico via mercado de capitais.