Cidadãos denunciam falta de prioridades e questionam benefício aprovado em meio a crises na saúde e na educação
Piracanjuba (GO) — Um grito de indignação ecoou pelas ruas de Piracanjuba nesta semana. Moradores se uniram em um movimento popular para protestar contra o projeto de lei que concede 13º salário e férias remuneradas aos vereadores da cidade.
Embora a proposta esteja amparada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) — que reconhece a legalidade do benefício —, a população argumenta que a moralidade e o bom senso devem falar mais alto diante da dura realidade enfrentada pelo município.
Uma cidade pedindo socorro
Piracanjuba enfrenta problemas estruturais graves, especialmente na área da saúde pública. O hospital municipal, com instalações antigas e falta de equipamentos básicos, não possui UTI nem setores especializados para o atendimento a mulheres.
As filas para exames e cirurgias são longas e crescentes, mesmo em procedimentos simples, revelando um sistema de saúde sobrecarregado e insuficiente para atender à população.
A educação também sofre com o descaso. Em algumas escolas, não há refeitórios adequados, bibliotecas ou espaços de lazer. Na Escola Maria Barbosa, localizada no setor Lima, as crianças fazem as refeições em uma tenda improvisada, que se torna inviável em dias de chuva — obrigando os alunos a comer dentro das salas de aula.
Enquanto isso, as ruas da cidade seguem sem asfalto e com manutenção precária, reflexo de uma gestão que, segundo os moradores, perdeu o foco nas reais necessidades do povo.
“É legal, mas é imoral”
O anúncio do projeto de benefícios aos vereadores provocou uma onda de indignação. A mobilização começou de forma espontânea e ganhou força rapidamente nas redes sociais e nas ruas.
Entre os nomes à frente do movimento estão Gabriella Machado, idealizadora de um abaixo-assinado que já ultrapassa 3 mil assinaturas, os produtores Fábio e Adriano Donegá, o líder comunitário Wilton Tadeu e influenciadoras locais como Maria Cristina.
Na última segunda-feira, o protesto tomou forma em uma carreata pelas principais vias da cidade, reunindo centenas de moradores que pedem mais responsabilidade com os recursos públicos.
“Piracanjuba está nas ruas e não vai se calar. O movimento não é de um, é de todos. É a voz de um povo que entende que, mesmo sendo legal, é imoral diante da realidade do município”, afirmaram os organizadores.
Tentativa de esvaziar o movimento
As sessões da Câmara Municipal de Piracanjuba acontecem tradicionalmente às segundas e quintas-feiras. No entanto, em meio à pressão popular, o presidente da Casa, vereador Fernando Silva, antecipou a votação para esta sexta-feira (24), às 9h da manhã — decisão que foi duramente criticada pelos manifestantes.
Para os líderes do movimento, a manobra teria o objetivo de reduzir a participação popular e evitar novas manifestações.
Mas o efeito foi o oposto: a população reagiu com ainda mais força, prometendo comparecer em peso à sessão.
A prioridade deve ser o povo
A mensagem das ruas é clara: Piracanjuba pede prioridade no que realmente importa. Saúde, educação e infraestrutura são as demandas urgentes que, segundo os manifestantes, devem estar acima de qualquer benefício político.
“Não é contra pessoas, é contra decisões que não refletem o que vivemos aqui. Antes de pensar em aumento ou benefício, é preciso olhar para o hospital, para as escolas, para o básico que falta”, resumiu uma moradora que participou da mobilização.
O movimento continua ganhando apoio, e a expectativa é de que novas manifestações ocorram nos próximos dias.
